Quando era criança eu via estrelas aqui. Juro. Era só olhar pro céu e lá estavam elas, reluzindo sobre os telhados. Algumas nuvens acendiam claras como a lua. Titãs, desenhos, mistérios, rotas e fugas. E quantas dúvidas... Mas la estavam. Bastava olhar, havia elas e havia eu.
E havia o silêncio magnetico noturno.
Dava pra ouvir o som do pensamento, pedia até pra pensar mais baixo.
As vezes batia um vento gelado... batia uma ideia, batia uma confusão, uma.angustia, um choro, uma indignação... nada atrapalhava... Bastava a luz do céu noturno pra me fazer sorrir. Ali no terraço a luz amarela dos postes não atrapalhava o céu.
Aos poucos fui crescendo.
E o céu apagou.
Nuvens, fumaça, emprego, despertador, fumaça, fumaça...
O horizonte acinzentou, camadas e marcadas de gazes e o céu desfocado. Desbotando. Perdendo o brilho. Perdendo a cor.
Talvez também tenha perdido minha luz.
Mas eu não desisti das estrelas. Nunca deixei de olhar pra cima e imagina-las. Nunca deixei de conversar. Nunca deixei de ouvi-las.
Ai veio a pausa.
Pandemica pausa.
Medo. Apatia. De novo o silêncio.
Vi dizer que águas limpas flagraram o céu lavar o rosto. É como quem solta o garrote, libera as vias e artérias o sangue subiu e o ar pairou!!!
Respira terra. Respira céu. A vida emanou.
A vista humideceu, o silêncio sussurrou...
Estrelas, estrelas... resplandece-te olhar... menino. Nunca deixei de girar.
Te guio pelo universo, e verso prosa em teu olhar... te vejo. Te vejo me vendo.
Vim Agradecer.
Densas nuvens reaproximam. Fumaça.
Brilhe. Guie.
Não esquecer.