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sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Eu-Lírico o poeta da esquina

17h17 dom 24.10.2010
...
Eu-Lírico o poeta da esquina
julgaram louco,
Conclamava seus versos rabiscados
em acordes e descordes desafinados.

Sua voz em desatino,
bradava a cantoria rouca,
engasgada, vitrola
riscada em tons de alegria.

A vitrola dos tons,
de ira, tristeza, furia, levesa,
Sorria, chorava, falava, cantava
nem o canto se perdoava,

O poeta da esquina
só podia ser louco,
Nem a pena o ajudaria,
Porque as moedas não recolhia.

Não passava o chapéu,
Não se explicava,
Aparecia, fechava os olhos,
E seu violão tocava

Simples, a tudo agradecia,
Mesmo quando não haviam
palmas, que eram raras,
Agradecia as atenções dispensadas

E assim seguia...

Parado na esquina,
dos transeuntes apressados,
Ritmava o fluxo, a Máquina
Quebrava o ritmo, clamava atenção

Se o maior dos músicos
se encontra-se ao seu lado,
Não chamaria tanta atenção
Como este louco e seu violão.

Louco? Não penso ser não.
O guru dizia, que ele só fazia,
Com muita gratidão,
O que mandava o seu coração.

As notas se sobrepunham,
As palavras se misturavam,
Versos e rimas se desencontravam
Ninguém explicava o que acontecia.
Quando suas pálpebras se juntavam

Soavam canções, poesias,
simples, estranho, perdidas,
Rabiscos que expressava em versos que não podia
Poderia?
Tentava tocar impossível melodia.

Ah... se o poeta tivesse mais vozes!
Para compartilhar sua cantoria,
Bradaria em cada estrofe
tudo aquilo que sentia.

Ah, se o poeta da esquina
tivesse mais de um coração!
Cada um, no seu ritmo, bateria,
dividindo e ritmando, cada tipo de emoção.

Se o poeta, quem diria!
Tivesse mais braços, mais mãos,
Mais corpos para expressar,
tudo aquilo que tentava tocar.

Era estranho, zuado,
embaralhado, desritmado
Era nítido, ver seu corpo, seus dedos
tentando, desesperados, sutis, mal comportados,

tirar de ouvido e sem cifras,
sem acordes, papéis, partituras,
Essa eclosão de sentidos amotinados,
Que transbordavam de seus olhos perdidos,
vivos, malogrados,...

Foi então que Surtou,
desequibrado em seus passos famintos,
Bradou, dançou, tocou,
cada mente civilizada com sua torta melodia

Rodopiou no mundo ali criado,
Girou e entortou os endireitados,
Libertou as pessoas tímidas,
E todas que condenadas estavam em suas rotinas

Surto, explosivo, surto,
choque, impulso, impacto
Subvertia em cada nota que fazia
O que a gravata reprimia...

Sim, A opressão tentou barrá-lo
Mas quando a tirania havia chegado
Todos ali, em suas asas já haviam decolado
Não demorou, para o capitão, também ser semeado.

E foi no meio da alegria que partiu,
Ao fim de sua última nota, ao chão caiu,
De joelhos orou,
E com sua mais bela melodia, se despediu.

E todos ali se perguntaram,
Passava fome? Sentia frio?
Lamentaram perder no dia de seu nascimento
Aquele que de novo os reluziu.

Do que vivia? Nada comia?
Se alimentava de ideias, percepções,
Bebia e saciava sua sede em sentimentos,
Explicava o guru, em lamentações.

E todos choravam ali,
pela ida do louco poeta,
que pecou somente em sentir mais
do que seu corpo pode suportar

Mas o poeta da esquina clamava alegria!
E compartilhando a tristeza do povo chorou em chuva,
Lavando ali cada alma,
libertava de novo o Amor...

Então sorriu em Sol maior,
e todos guardaram na memória
a dor e a alegria do louco e libertador
poeta da esquina!


(+_+).

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