Páginas

segunda-feira, 14 de maio de 2012

A CAIXA


16:20 – 02/05/2012




Nesse lugar escuro, sinto um frio. Sinto um frio passado, um calor presente, do amanhã pressinto um vento. Sentado, de pé, no mofo, no breu, no silêncio, no negro manto que cobre meu tempo vejo. Desviado das cores, quase me esqueço que elas existem, despercebo o espaço neste ex paço que já se foi, e nem um passo a mais crio, investigo, pretendo, as paredes impuseram os limites, e de dentro desta caixa, desconheço todo o mundo, sou um segredo.
O clima já foi outro. Choviam perguntas, reflexões e até algumas respostas. “Porque me puseram aqui?”, “Por que aceitei isso aqui?”, “Há quanto tempo estou aqui?”, “Quantos dias eu tenho?”, “Quanto tempo?”, Tempo.... O que é o tempo?
Dias passaram. Noites de chuva e de frio, de calor e a imagem do Sol em memória, de outono dourado em linhas inexistentes, e uma primavera imaginária de flores, que aos poucos foram perdendo suas cores, foram perdendo suas pétalas... perdendo-se os sabores... da vida, que eu nem me lembro se um dia existiu.
Perdi o teto, no calor. Perdi o tato, no frio. Perdi meus passos, meus versos, de vida, de gente, de emoção. Família, amigos, amores... Perdi o espírito, me esqueci. Me perdi, dentro desta caixa.
Não tem sentido, nem ter sentido mais... apenas espero, apenas existo, apenas sou, só... isso... acho... sou?
Ainda existo?
Ainda escuto meu respirar, e talvez ele seja o ultimo.
Meu Deus! Talvez ele seja o último!..

Foi então que perdi as forças num choque de sentido... A última gota de consciência escorreu, e se deixou cair ao chão, duro, e seu peso, em solo seco, fez do meu desejo mudo, um eco.
Som.
A caixa, que nem sabia se era um caixão, uma gaveta ou um baú de memória, se tornou acústica, que em sentido logo fez meus pelos se arrepiarem. O eco, a fresta... Meus pés se levantaram, e a memória de uma dança tomou meus neurônios, a dor em minha cabeça lembrou-me que a dor existia, e então para senti-la atirei meu corpo nas paredes, ecoando notas de dores e memória, correndo em círculos, em angulos, e sem direção... Lembrei do vento, do horizonte, e do Sol. Corpo, dança, música... som..
Meu corpo sobrevivo trombou insólido papel desta caixa, desta sela, que em selo do suor que não havia, fez nascer uma fresta.... a fresta... a chave … a fechadura se abriu, e reverberou por seu orifício toda a luz que um tempo desconhecido um dia engoliu....
Branco.
Leite, céu, sina, Sol, Luz...
A fresta ali estava, a entrada da chave. Ainda existo. Ainda sou. Ainda respiro.

Ali está a fechadura. Eis aí a minha fresta!
A possibilidade da minha fuga!




agora só me falta a chave (+_+).





Nenhum comentário:

Postar um comentário