Páginas

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

O céu nublou de novo

Quando era criança eu via estrelas aqui. Juro. Era só olhar pro céu e lá estavam elas, reluzindo sobre os telhados. Algumas nuvens acendiam claras como a lua. Titãs, desenhos, mistérios, rotas e fugas. E quantas dúvidas... Mas la estavam. Bastava olhar, havia elas e havia eu. 
E havia o silêncio magnetico noturno.
Dava pra ouvir o som do pensamento, pedia até pra pensar mais baixo. 
As vezes batia um vento gelado... batia uma ideia, batia uma confusão, uma.angustia, um choro, uma indignação... nada atrapalhava... Bastava a luz do céu noturno pra me fazer sorrir. Ali no terraço a luz amarela dos postes não atrapalhava o céu.

Aos poucos fui crescendo. 

E o céu apagou.

Nuvens, fumaça, emprego, despertador, fumaça, fumaça... 

O horizonte acinzentou, camadas e marcadas de gazes e o céu desfocado. Desbotando. Perdendo o brilho. Perdendo a cor.

Talvez também tenha perdido minha luz.

Mas eu não desisti das estrelas. Nunca deixei de olhar pra cima e imagina-las. Nunca deixei de conversar. Nunca deixei de ouvi-las.

Ai veio a pausa. 
Pandemica pausa.

Medo. Apatia. De novo o silêncio.

Vi dizer que águas limpas flagraram o céu lavar o rosto. É como quem solta o garrote, libera as vias e artérias o sangue subiu e o ar pairou!!! 

Respira terra. Respira céu. A vida emanou.

A vista humideceu, o silêncio sussurrou... 

Estrelas, estrelas... resplandece-te olhar... menino. Nunca deixei de girar. 
Te guio pelo universo, e verso prosa em teu olhar... te vejo. Te vejo me vendo.

Vim Agradecer.

Densas nuvens reaproximam. Fumaça.

Brilhe. Guie. 
Não esquecer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário