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sábado, 12 de setembro de 2020

Caminho do Mar

O dia encerrou... Até que foi produtivo. Cansativo. Consegui gelar um vinho barato. Tô aqui na área de trás. Na verdade eu estava procurando um lugar pra beber. Pensei em subir. Mas nenem chorou e fico preocupo desço e ai vai o tempo. Voltou  a  dormir. Tomei uma ducha e onde bebo?
Fui pro quarto vago. Quente.
Fui na sala. Ventilador ligado. Quente.
Pensei na varanda e subir... ai dei uma conferida na área de trás. Escuto. Gélido. Perfeito. Senti uma brisa que vinha do mar. Juro. Cheiro de sal. Cheiro de mar. Pura maresia. Não sei se veio de algum ônibus que subiu a serra, quiçá abriu as portas na garagem aqui de trás e olhai a maresia viajou de dentro e na hora daquele som maneiro de ar que sai das portas de ônibus a maresia se sentiu uma bebida gasosa... melhor... frisante... que veio direto bater na minha porta me convidar pro seu aroma. nostálgico.

Mas levantando a cabeça levemente pra sei lá, liberar as narinas, inspirando profunda e levemente você percebe que é mar puro mesmo, tem quase nada daquele cheiro de estofado junto. Ventania norte? Carregou céu mar até mim? Não tem cigarros. Nem gasolina. Nem cheiro de estofado e ácaros pra somar com meu cocktail de grãos e secas. É Mar em vento batendo na cara. Sal puro coçando as narinas poluídas... no escuro do roxo céu, percebe-se uns quatro  micropontos cintilantes, dois piscam, outros dois são planetas alinhados. Há  tempo não comia nozes nem castanhas nem essas coisas caras
.. Tento discernir no paladar a macadamia, trago o vinho seco barato e bom e levar os farelos hora presos por dentre os dentes, há tempos não degusto minha companhia, há tempos não sinto a água rala da quebra de ondas extravagantes subir o liso pavimento de grãos de areia e beijar-me os pés. Gelada. Noite quente. Fresca noite abafada.
Há tempos são os jovens e as crianças que adoecem, anciãos se perdem, e meus vizinhos dormem. 7 torres. Uns 90 andares. 190 apartamentos. Talvez menos. Talvez mais. Daqui do ponto de vista cosmovisão limitada 19 luzes acesas. Estão comigo acordados estes. Apesar que estou no quintal e acordado, racionando os goles, e estou no escuro, eu mesma não seria contado como estou a contar. Tal qual seres humanos urbanos contam, estes também esquecem, e esquecem luzes acesas, dando a entender que estão acordados, porém. Já dormem a 5 sonos. Gostaria de saber quem criou a contagem de sonos, provavelmente uma farsa, ou uma licença poética mal interpretada. Tosca. Sono é  sono. Dentre os 1001 sonhos quantos se  podem contar?
16 pessoas acordadas. Julgo. Independente das luzes. Bem. 20. Já que o bêbado em algum quarteirão brada resmungante. Creio que recita sua embriaguez indignada para outros 2. Sim. Eu sei. Somam 19. Mas  a senhorita que a pouco se mudou vinda de silenciosa vila, esta, acorda com qualquer ruído divergente, mesmo já  tendo habituada ao som dos motores. Mas brados retumbantes entorpecidos? Ah... isso infelizmente ainda a acordava e a fazia espiar pela persiana, o que há? Mal sabe ela que aqui não é o que faz barulho que preocupa. Canetas. Gravats. Cinzas. Gatilhos. Vírus. 

Os siolenciosos ruídos ecoantes já não dispersam tantas dormências. Afinal ruídos são paisagens sonoras de nossas janelas laterais e quartos de dormir...  agora são 14 luzes acesas... Dentre essas algumas trocaram. Ali uma que quase certeza esqueceram acesa. Dali a outra novos sons... me espiam? Sons. Ruídos. Paisagens sonoras. Fogos de artifício noturno pra temperar a despedida. O meu tempo comogp com as palavras e com o vinho barato comemorado por desconhecidos se finda. Preciso dormir. Dobram semanas que não adormeço. É hoje preciso preciso preciso dormir... numa boa porra.. vai lá e dorme é  simples. Lembra da.sua técnica.... respiração, oração e meditação. Se não pegar no sono ao menos tende a evoluir durante te a tentativa. Não raro funciona mesmo... quando lembro da técnica. Hora apenas só penso ainda mais. Hora só acordo noutro dia com a boca cheia de saliva dormida. Dessas da manhã meio secas. Funciona mesmo. Tanto quanto a dança a chuva. Problema termina quando decidi deitar. Problema começa  quando decido beijá-la na cabeça e sentir seu cheiro. E a cada movimento observa-la. É no início da sonolência plena desperto. Com brados e choros e reclamacoes não do bêbado. Mas da cria e da criadora. Entre só entre elas.... esperem estou aqui o que pega.... E pela manhã mais uma surra assalariada a óleo graxa e piadas debochadas de nossos sonhos impedidos de sonhar.

Quantos pequenos sonham agora? Quantos a recordar seu sonho pela manhã.

Restam 3 goles... bem, 2 e meio.

Dentre as luzes, 4 são banheiros. Certeza.

Abreijos. Bons sonhos. 


+.+


1:22  -13 de setembro 2020 - Vila Franca.

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